terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Fazes-me falta.

Habituei-me a ti.
Habituei-me ao teu abraço quando já não queria perceber que podia amar.
Habituei-me às brincadeiras soltas e fáceis de quem sabe ser criança nos momentos certos e habituei-me ao beijo carinhoso que me apanha de surpresa.
Habituei-me à memória de um pedido de casamento e habituei-me à expectativa do dia marcado.
Habituei-me a ter-te do meu lado, ao meu telemóvel e à mesa.
Hoje, fazes-me falta.

1 comentário:

Unknown disse...

"E eis-me preso à memória escura dos teus olhos, dos teus passos saltitantes, da tua alegria convicta que a partir de certa altura começou a açucarar demasiado a minha vida. Não consigo concentrar-me. Passo os dias com os olhos sobre as letras dos livros que tenho de ler e não consigo entrar neles.

(...)

Como sabes eu vivo de relâmpagos; contigo partilhei uma trovoada um pouco mais longa do que o habitual. Foi apenas isso. De qualquer modo, a morte espreita sobre todos os prazeres dessa cronologia a que nos agarramos para escapar ao tempo. O que somos para além do que vamos sendo? O meu além eras tu- íman da minha íntima, impessoal temporalidade. Redenção dos males que me amputaram. Tu. (...) Feliz por estar ao teu lado outra vez. Ao lado dessa que já estava morta um bom par de anos antes de tu morreres. Fazes-me falta. Mas a vida não é mais do que uma sucessão de faltas que nos animam. A tua morte alivia-me do medo de morrer. Contigo fora de jogo, diminui o interesse da parada. E se tu morreste, também eu serei capaz de morrer, sem que as ondas nem o céu nem o silêncio se transtornem. Cair em ti, cada vez mais longe da mísera ficção de mim. "

Inês Pedrosa

Fazes-me Falta